08 de fevereiro de 2024

 A minha vida começou faz tempo. Sempre soube disso. Não estive esperando momento algum que desse a largada, pessoa alguma, sempre vivi no íntimo do meu ser a movimentação certeira de que estava sempre construindo. Olhava para meu corpo com olhos presentes, sabia que aquelas mãozinhas da infância, embora fossem esticar e tocar diversas superfícies, já eram minhas mãos, já eram, ali, o em si da vida. Por isso, nunca tive pressa e demorei onde pude; vivi e vivo uma velhice, como se toda a vida já estivesse aqui desde sempre. O que há de me acontecer, já está acontecido, estou apenas caminhando vagarosamente ao que me é de direito. Enoja-me pensar que há quem seja um espectador de si, espera sempre pelo outro, pelos olhos do outro, o outro me é complemento, sim, óbvio, sou dada aos grandes amores. Mas tenho em mim uma multidão de outros, crianças, adolescentes das mais diversas idades e a jovem senhora que me espera numa outra esquina. Sou sempre outras, mas guardo em mim a certeza de que a vida começou há tempo para mim, desde que eu fiz a primeira pergunta irresponsável.

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