17 de agosto de 2025



 Leitor, perdoa-me.

Fiquei por escrever há meses, que já contam mais de um ano, pensei em você, mas o tempo corroeu as coisas por aqui e afastada de ti eu não sabia mais como voltar. Devo dizer, também, que me faltava um teclado, eu que escrevi muito à mão. Mas que ainda não dominei essa coisa do Ipad - como velha existencial que sou - e, hoje, pela benção do destino e pelas mãos de um amigo, eu tenho um teclado - essa tecnologia maravilhosa! Que me faz ouvir a música das minhas letras. Leitor, tenho muito a dizer, tanto, tanto, que fica vazia a cabeça nessa hora da escolha, é como amar muito - quem ama muito perde o modo, o jeito e a palavra de dizer "te amo", quer e sente que o amor por si se dá, mas não é assim que a banda toca, já que nem todo mundo sou eu e nem todo mundo é você, leitor. Alguns, apenas. 

Então, vamos começar pelo tópico constância. Eu pensei muito na Tropicália esses dias, e como aquele pedaço de tempo mudou as vidas de Caetano, Gilberto, Gal Costa, Bethânia e tantos outros menos ou mais conhecidos que esses, esse pedaço de tempo parece isolado nas coisas da vida, depois, o Brasil sofreu um certo enrrijecimento intelectual de tremer os nervos, ninguém mais se dá por completo aos projetos artísticos - nem ricos nem pobres. Mas... o que liga o tópico constância à Tropicália é a impressão curiosa que Caetano e seus amigos eram outros, diferentes dos que são agora, mas o que pensei, leitor, é que eles continuaram os mesmos e vivendo. Preta Gil, filha de Gilberto, morreu aos cinquenta anos, o absurdo de enterrar os filhos, e posterioemente, em um show, Caetano recantou uma música que Gil, o pai, havia cantado no enterro da filha, e disse: "essa música nenhum de nós gravou". A beleza de não revelar o íntimo do amor. Uma música ficou guardada por anos, era uma música que falava de Moreno e Preta, crianças, brimcando juntos na sala. Infantil, bela, carinhosa, constante porque aprisionou o lapso da infância de Preta que jazia agora no caixão. Leitor, eu quero amar como essa música e quero que saiba que eu amo como essa música a quem eu amo. Veja, que beleza uma coisa que se guarda pública para os amantes por anos! E isso me fez pensar o que secretamente amo junto aos meus, o que guardo de secreto para que seja constante? O que não esgoto para que perdure? Pensei, leitor, até em conservar os nomes, para que eles sejam como santificação na minha boca, para que sejam como dizer DEEEEUS na missa, depois de guardar o nome de Deus durante a semana toda. Eu protegi muitos nomes por amor, alguns eu omito, outros diminuo, algus outros até evito falar para que não se gaste a pronuncia do nome do amado - seja ele quem for. Meu pai me chamou muito tempo e na infância pelo nome "Maria", meu segundo nome, tomei pra mim esse nome e o abracei e o coloquei em facebook, instagrams, até nos primeiros trabalhos assim me chamavam e ele, meu amado, abandonou o nome "Maria", talvez ele nõa tenha percebido a mudança nem tenha feito por querer ou racionalmente, mas agora que todos pronunciavam o nome, não mais ele. E não mais eu. Deixei pra lá Maria porque eu não era mais, porque não era o meu pai quem me chamava. Eu gosto de como as palavras e sílabas dos nomes de quem eu amo salpicam na minha boca, e preciso empenhar amor nesse processo. Como você chama aqueles a quem ama, leitor? Queria que você pensasse nisso agora. A dádiva de poder, no ápice, berrar um nome amado, leitor. Você tem? Eu não. Mas já tive. E sempre pensei sobre o valor de pronunciar as silábas de nomes amados. Nossa, sinto que desvirtuei a constância do texto e, ainda por cima, cometi blasfêmia. Pois é, meu caro, tudo igual por aqui. Eu fiz trinta anos esse ano, leitor, e não me enchem mais o coração os picos, eu quero a constância interminável do amor, essa metira bonita, eu quero cuidar da chama delicada de uma vela para que ela não apague, isso é, por si, um trabalho moumental, de monge, e que carece de constância, mas imagine, quantos ângulos terei que proteger, é essa constância que eu quero, atacar por todos os lados o cerne dessa coisa que quer ser preenchida pelas palavras, pelos nomes, pelas velas inúmeras no chão. Leitor, ame, ame contra a bárbarie, ame e multiplique e tenha filhos, se puder. Sofrer já está posto, o amor é quem tem precisado dos fiéis. 

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