22 de dezembro de 2021

 Depois de tirar uma foto muito bonita, vim até aqui, puxei as teias de aranhas e comecei essa frase. Mesmo com o cabelo um ninho de mafagafos, consegui extrair alguma beleza de mim. Há semanas que não uso nenhum tipo de pincel no rosto, gostaria de ser terrivelmente eu. Continuo apreciando as belezuras da vaidade, mas, ultimamente, sinto que minto se cubro o rosto, a única coisa que permaneceu aqui foram os lábios pintados, talvez porque eles sejam mais meus do que os meus de nascença. Será que isso é envelhecer? Não sei, porque me sinto jovem ainda, talvez até mais do que quando eu dançava em cubículos fechados e entornava clones de bebidas, talvez até mais do que quando eu fingia ser fatal, rebelde e indisciplinada. Aconteceu que sou fatalmente fatal, e isso não foi algo que eu construí ou que corri atrás, talvez desistir dessa ideia de mulher-arma-acimadetudo tenha me feito fatal pela desistência da norma, dessa bobagem feminina, no final das contas, eu sou o que eu tenho em mim e isso sempre escapa. Eu simplesmente escapo; mesmo que muitos tenham achado que aquela era a explosão do meu eu e me conhecido nos meus anos áureos, eu discordo, as coisas me aconteceram esse ano de modo que eu envelheci para ficar sábia como uma árvore, não que eu seja sábia, mas sou mais do que ontem. Experimentei profundamente a solitude de um silêncio interminável, algo que saiu de fora e entrou em mim e eu precisei me acomodar, é difícil se acomodar em si mesma porque todos sempre querem um pedaço de você ou que você seja ou que você não esteja confortável consigo para que se possa arrancar um pedaço e, então, entrar ali naquela fissura para que você dependa sempre de alguma coisa para se sentir verídico, creditado, existente. Por isso, eu acredito no mundo como um palco, Drummond escreveu perguntando se as coisas que não são vistas existem. Eu digo que talvez mais... Embora eu mostre muito, pouquíssimos (será que alguém?) conhece meu coração. Eu sou uma festa de uma pessoa só, confortável consigo, cheguei ao ponto que o que segue comigo é sempre bem-vindo e o que não segue não estará mais aqui e essa é a simplicidade da vida para aqueles que estão em si. A única coisa que verdadeiramente tenho é meu corpo e minha mente e parece, depois desses vinte seis anos, que sempre foi isso mesmo, eu sempre soube que enquanto mantivesse minha sala silenciosa intacta, estaria bem, sã, na medida do possível, construindo não para fazer sombra em outros, mas para transcender. Não quero que você ache, no entanto, leitor, que eu sou iluminada ou que prego o bem... O bem eu prego, quando ele deve ser pregado, mas o meu manifesto de estar ciente de mim é saber que eu também estou suscetível a ser um lobo avançando sobre ovelhas e de me recolocar na posição de destaque, qualquer posição subalterna ao centro de minha vida é mais confortável que essa, pois, assim, eu posso terceirizar o meu desejo, a minha angústia jogando a minha ruína para qualquer outra instância. Mas cheguei ao ponto que meus descontroles são meus, meus erros são meus, meu corpo é meu, meu desejo é meu e a única coisa que posso fazer com isso é centralizar-me no debate da minha vida. Ninguém fará por mim o que eu faria, não há quem me salve, quem seja metade porque eu sou inteira. 

Comentários

Postagens mais visitadas