17 de julho de 2023
Leitor, quanto tempo.
Queria ter a desculpa perfeita para camuflar o meu hiato, mas só tenho uma multiplicação de pequenos desastres e sobrevivências necessárias. A verdade é que não pude escrever porque não tive o ócio necessário aos poetas. Mas tenho pensado muito e minha cabeça tem sido um palco de frases que eu repito vários vezes para não esquecer e esqueço. Por onde vamos hoje? Vamos começar por algo que me ocorreu dia desse enquanto lavava o cabelo no cabeleireiro: eu tenho uma hiper sensibilidade na cabeça, tamanha que fico constrangida porque meus pelos do braço se eriçam quando vou lavá-lo, isso me pareceu algo extraordinário e metafórico quando consegui ligar tamanha sensibilidade com a importância que eu dou ao que representa a cabeça: fala, olfato, paladar e tato - tudo o que me dá catarse está ligado ao cérebro, logo, é aqui mesmo que sou mais sensível e desprotegida. A sabedoria ancestral africana trata a cabeça com seriedade máxima, não é todo mundo que pode tocá-la, ela é guardada pelo orixá de sua regência, é coisa seríssima, precisa ser protegida, limpa, cuidada com o mais espiritual dos afetos. Já tive mais de um amor que me dizia: “eu quero beijar seu cérebro”, esse certamente é um dos maiores elogios que eu já recebi. Eu sempre quis ser uma garota genial, apenas genial, não queria ser bonita, magra, bronzeada, sensual: apenas genial. Bem, eu conheci mais de Helena do que de Atena nessa minha aventura nova de ser adulta. Ser genial me bastava quando adolescente e eu era mesmo. Mas lembro quando um turbilhão de coisas que me atropelaram e eu tirei meu primeiro 0. Não lembro do meu primeiro 10, mas nunca vou esquecer aquela tarde de dezembro. A dor da insuficiência surgia na minha vida, eu quis me atirar - falo sério - da varanda do terceiro andar da minha escola. Eu não era mais nada. A briga estava perdida, não era mais genial e agora me sobravam: ser nada e ser igual. Não queria nenhum dos dois, então voltei a escrever buscando fazer algo que eu lembrava: desde que me lembro de mim, estou escrevendo algo. Leitor, perdi um pouco a mão poética, amanhã ela volta, estou praticando de novo. Escrever agora foi como tirar meu primeiro 0. Mas o erro, como eu já disse, sempre sempre sempre fez muito por mim. Pra você não ficar aí sem poesia, aqui vai uma:
existem coisas piores do que a guerra
helena sabia sob o jugo da grande pena
da sua beleza
boiavam cadáveres e sangue e gritos
tudo por causa da sua indistinta arrogante
e não pedida beleza
felicidade e beleza estão muito distantes
quase sempre
Há um Recife inteiro pra contar de coisas ainda, leitor. Volto já!
Comentários
Postar um comentário